14 junho, 2008

Laços

- Ta indo pra onde?

- Eu não to indo, eu to vindo.

- Isso eu sei. Todo mundo que está indo pra algum lugar, está vindo de algum lugar.
Eu perguntei pra que lugar você está indo.

- Eu não sei. E nem quero saber.

- Mas eu quero saber.

- Você me dá licença?

- Você ainda não me disse o que eu quero.

- Você é por acaso é algum tipo de maluco que acha que tem saber tudo aquilo, que não é absolutamente da sua conta?

- Eu sou apenas uma pobre criatura que precisa que alguém de um laço na sua gravata.

- Se eu der o laço na sua gravata, você promete que me deixa ir?

- Se for um laço bem bonito.
Que hoje é um dia muito importante pra mim.

- Sorte a sua.

- Tenho certeza de que hoje também não é um dia muito importante pra você?

- Eu não quero falar sobre isso.

- O nome disso poderia ser algo como falta de preparo pra le dar com uma situaçao especifica, mais eu prefiro chamar de perca de tempo. No final se voce vai ter que lidar com uma situaçao especifica é melhor encarar logo os fatos. Senão um dia lá na frente, você pode se tocar 'que bobagem perdi anos da minha vida tentando fugir de algo que era inescapavel invez de viver aquilo, visto que a vida nada mais é do que viver cada coisa que acontece'.

- Tudo bem, você venceu. Eu tava fugindo.
Gostou do laço?

- Eu prefiro os laços firmes, aqueles mais dificeis de se fazer e de se desfazer, mas que quando feitos e depois desfeitos podem se orgulhar de si próprios e falar com convicção 'eu fui um grande laço'.

- Laços não falam,
muito menos com convicção.

- Mas eu falo. Sobre temas variados. Posso dizer sobre todos os motivos que uma menina tem pra não chorar, em ordem alfabética.
Ou recitar um poema de amor. Ou contar uma piada.
Você sabe aquela do papagaio que não gosta de piada de papagaio?
Eu poderia passar horas dizendo bobagens em geral. E explicar a importancia de cada uma delas.
Mas desde que você exija.

- Você ganhou.
Eu exijo uma explicação pra essas bobagens.
O que você tem a dizer?

- É bobagem chorar por laços que parecem desfeitos, mas que continuam firmes. Alguns laços são teimosos.
Às vezes a gente pensa 'puf! lá se foi ele'
Mas ele vai estar sempre ali, que nem alguns amores.

- Tá bom, senhor maluco da gravata.
Eu estava no enterro do meu pai. Eu não queria ficar alí, daí eu fugi. Não sei pra onde. Lugar nenhum me interessa mais agora que ele não está em lugar nenhum.

- É lindo. O laço!
(...)